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sábado, 1 de outubro de 2011

O BORRACHEIRO E O REI

Reino de Guaracangalha o retorno

“O Fagulha”
 
O BORRACHEIRO E O REI

“Era uma vez,
Eu bem ao certo não sei,
Só sei que era uma vez,
Um borracheiro e um rei...”

O rei, acostumado com as mordomias do reino, do puxa-saquismo geral e da vida vivida sem esforço, pois a rainha já lhe entregara de bandeja o poder, usando a máquina do governo para elegê-lo¹, não dava a mínima para os seus súditos e, sempre que alguém ousava reclamar da vida miserável que levava, ele se valia de seus rábulas para impingir pesadas penalidades, processos, multas, banimentos, confiscos, execuções fiscais e desapropriações injustificadas.

Certa vez, quando ele viu um súdito que não lhe beijava os pés e vivia lhe atazanando o juízo com denúncias justas na internet, lhe dirigiu um gesto como se estivesse portando um revólver, apontando o dedo para o alvo e simulou um tiro sugerindo eliminar todos aqueles que lhe fizessem oposição.

Nesse reino de sofrimento e opressão, onde todos tinham muito medo, vivia um súdito muito pobre que queria deixar de viver de favores e montar o seu próprio negócio.

Havia aprendido quando adolescente, o ofício de borracheiro e resolveu se instalar no reino, abrindo uma borracharia de onde proveria o seu sustento.

Acontece que o rei já tinha os seus preferidos no mesmo ramo de negócio e fez de tudo para impedir que o pobre súdito realizasse o seu sonho.

Quando o pobre súdito borracheiro fez o seu pedido de abertura do negócio, o rei exigiu uma infinidade de documentos impossíveis de se conseguir sem altos custos e, por mais que se esforçasse o infeliz artífice, sempre havia mais uma exigência, mais outra, outra mais, enfim uma dezena de  empecilhos que tornavam cada vez mais difícil o intento.

Agora, quando se tratava de algum empreendimento que satisfazia os interesses do arrogante rei, tudo corria muito rápido, rápido mesmo, principalmente quando se tratava de obras envolvendo grandes somas de dinheiro, sempre tocadas pelos mesmos amigos que se revezavam, embolsando gordas quantias envolvendo milhões e milhões de reais.

Um dia, na rua, por coincidência, o pobre borracheiro deu de cara com o prepotente rei e em tom de súplica lhe fez um pedido desesperado:

- Ó meu senhor e rei, interceda junto aos seus comandados, para que permitam que eu abra a minha humilde borracharia.

Olhando o borracheiro com desdém, lhe respondeu em versos:
- Ribeiros correm aos rios, e os rios correm ao mar,
Quem nasce para ser pobre não lhe vale o trabalhar

Vendo isto, o bondoso gênio da felicidade resolveu ajudar e, mesmo contra a vontade do tirano rei, providenciou toda a documentação, conseguiu um empréstimo no banco, comprou os equipamentos, alugou um ponto e, assim, o borracheiro começou a trabalhar com muito empenho e dedicação. Estava muito feliz e cheio de esperança.

Sabendo disto, o impiedoso rei se encheu de cólera e determinou que os seus fiscais fossem até o comércio do borracheiro e buscassem um motivo para fechar o estabelecimento, o que foi feito imediatamente.

O pobre borracheiro cheio de tristeza e melancolia, vendo que de nada valia o seu esforço, pois o rei perverso de tudo fazia para que os seus súditos permanecessem na mais absoluta miséria e infelicidade, entrou em depressão profunda e morreu.

Cheio de alegria, o rei déspota mandou chamar o gênio da felicidade e, mais uma vez em versos, lhe disse:

- Eu para pobre o criei,
Tu, rico, fazê-lo queres,
Agora aí o tens morto,
Dá-lhe a vida se puderes. 

 ¹ O reino aqui referido já tinha sido uma próspera democracia, mas o poder acabou indo parar nas  mãos de uma família que resolveu não mais abrir mão do poder e se tornou uma monarquia à custa de manipular o povo à custa do uso da máquina do governo para se perpetuar no poder.

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